domingo, 16 de janeiro de 2011

Vermelho


Não dormi nada naquela noite. A festa de anos da minha melhor amiga era no dia seguinte e era a primeira festa de anos que metia baile. E estava lá aquele rapaz que não me saía do pensamento. E ia estrear aquele vestido que me estava a deixar bastante inquieta. Estava tão curto e era um bocado provocante, não era tanto o modelo que me moldava bem o corpo e me favorecia bastante, mas era a cor! Aquele vermelho por fora entrava por mim adentro e avermelhava os meus pensamentos. Estava em vésperas de uma primeira vez: a primeira festa e sabia lá que mais daí viria!

O tempo que demorei a arranjar-me, as vezes que perguntei aquele fiel espelho como é que eu estava e as vezes que ele pacientemente me respondia que eu estava de arrasar…

Finalmente lá fui eu…

As minhas amigas esperavam-me e lá foram dizendo que eu estava uma tara, o meu vestido era o máximo. Embora também achasse, a opinião delas dava-me um pouco mais de confiança. Mas estava uma pilha de nervos!

E finalmente o baile começou. O tal convidou-me para dançar e eu sentia a minha cara da cor do meu vestido, do meu coração, do meu sangue. Só me lembro de ter sentido o vermelho a tomar conta de mim. A excitação também era vermelha, a paixão avermelhou tudo e o meu vestido apenas dera o mote para aquela revolução vermelha.

Vermelho de fogo intenso, vermelho de sangue bombeado a uma velocidade alucinante, o nosso contacto era vermelho, o vermelho encheu a sala, encheu a minha vida, cristalizou aquele momento e eu soube que aquela cor ficaria num canto da minha memória feita aquele mini-vestido com favos na cintura, que me ficava a matar, vermelho, vermelhão, que avermelhou aquele dia tão primeiro e tão único!

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

A nossa Lua



A Lua partiu.

A Lua partiu-me.

Ficou escuro sem a luz da minha Lua.

Ainda sinto a tua presença e por que sinto já a tua falta?

A minha Lua brilhou tão forte, iluminou tanto a minha vida!

A minha Lua mostrou-me todas as suas fases,

Fomos felizes, brincámos tanto, às escondidas…

Depois desafiava-me para as corridas,

Para mais e mais, era um nunca mais acabar de brincadeira.

Com ela eu voltei à infância tantas vezes!

A minha Lua tinha tantas fases e todas eram luminosas

e fez-me vivê-las com ela, as fases da minha Lua!

Às vezes parava e descansava para ter mais forças para brincar o dobro.

Era toda energia e adrenalina

E eu sentia-me revigorar nesse sempre em festa.

Acho que ela sabia que tínhamos de aproveitar,

Que tinha pouco tempo para iluminar as nossas vidas.

Quando a olhava sentia saber que era uma companheira

Para muitos dias e muitas noites, não pensava em fim.

Pensava que sabia …

Nós nunca sabemos nada

Pensamos que sabemos …

O dia da separação não era para nós, não era nosso.

Nossos eram os momentos de alegria, de ternura, de cumplicidades,

De companheirismo.

Nossa era a luz que uma dava e a outra reflectia.

Eu era a segurança,

O colo que ela escolhia quando queria,

Eu adivinhava-lhe o querer,

O precisar,

O sentir.

E ela pagava tudo com aquele olhar!

Quando ficava brava, felina à séria,

Era só mais uma fase da minha Lua e durava segundos …

Já estava a brincar outra vez.

Lua!

Que bem que soa,

Rima com tua, com rua.

Lua!

Tão cheia de mistérios, tão feminina, tão bela!

Já me faltas, com as tuas fases,

Que saudades das tuas fases mais lunares

E das outras, as mais solares.

Brilhaste e coloriste tantos momentos!

Esta saudade de lágrimas feita,

Tirou-me a voz para que eu sofra sem barulhos,

Para que seja o silêncio a evocar-te,

A substituir-te!

O silêncio é a tua ausência, o teu lugar cheio/vazio.

Perdi a voz para não te chamar,

Para que partisses em paz.

Quero que tenha sido por isso!

Obrigada, Lua, minha querida Lua,

Obrigada pelo teu brilho,

Pela tua presença na nossa vida,

Pelas gargalhadas que nos fazias dar a cada momento e que te davam ainda mais pica,

Pelo calor da tua presença,

Pelo conforto que sentíamos só de olhar para ti.

Não querias partir, vi no teu olhar, na tua atitude,

Pensei que dizias que estavas melhor,

Fiquei tão contente!

Mais uma vez enganei-me..

Estavas a dizer que ias partir e eu não percebi!

Guardo esse momento tão doce e tão cruel!

Mas estás cá dentro e hei-de encontrar-te por aí, pela casa em muitos silêncios,

Hei-de encontrar-te sempre que chegue a casa e sinta que me falta algo,

Cada noite que olhe o céu, lá bem alto,

Hei-de ver-te a brilhar numa das tuas fases,

Lua.

Adoro as tuas fases, as tuas faces, Lua!