Não dormi nada naquela noite. A festa de anos da minha melhor amiga era no dia seguinte e era a primeira festa de anos que metia baile. E estava lá aquele rapaz que não me saía do pensamento. E ia estrear aquele vestido que me estava a deixar bastante inquieta. Estava tão curto e era um bocado provocante, não era tanto o modelo que me moldava bem o corpo e me favorecia bastante, mas era a cor! Aquele vermelho por fora entrava por mim adentro e avermelhava os meus pensamentos. Estava em vésperas de uma primeira vez: a primeira festa e sabia lá que mais daí viria!
O tempo que demorei a arranjar-me, as vezes que perguntei aquele fiel espelho como é que eu estava e as vezes que ele pacientemente me respondia que eu estava de arrasar…
Finalmente lá fui eu…
As minhas amigas esperavam-me e lá foram dizendo que eu estava uma tara, o meu vestido era o máximo. Embora também achasse, a opinião delas dava-me um pouco mais de confiança. Mas estava uma pilha de nervos!
E finalmente o baile começou. O tal convidou-me para dançar e eu sentia a minha cara da cor do meu vestido, do meu coração, do meu sangue. Só me lembro de ter sentido o vermelho a tomar conta de mim. A excitação também era vermelha, a paixão avermelhou tudo e o meu vestido apenas dera o mote para aquela revolução vermelha.
Vermelho de fogo intenso, vermelho de sangue bombeado a uma velocidade alucinante, o nosso contacto era vermelho, o vermelho encheu a sala, encheu a minha vida, cristalizou aquele momento e eu soube que aquela cor ficaria num canto da minha memória feita aquele mini-vestido com favos na cintura, que me ficava a matar, vermelho, vermelhão, que avermelhou aquele dia tão primeiro e tão único!