quinta-feira, 29 de julho de 2010

Velhas e maravilhosas Senhoras


Olhando estas árvores tão bem agarradas à mãe-terra, tão sabiamente anciãs, sentimos o quanto somos pequenos, insignificantes e passageiros de uma curta viagem. É deslumbrantemente belo e profundo...

Senti necessidade de parar, olhar, voltar a olhar, sentar-me, fotografar, olhar outra e outra vez. E levar estas velhas senhoras no meu pensamento. E elas levaram-me a pensar no tempo, na vida. Estes troncos, estas raízes, estas vidas tão longas! Por elas têm passado tantas pessoas que admiraram as várias fases do seu crescimento, tantas pessoas passarão ainda...

Estas árvores são seres vivos, vidas que se alimentam desta mesma terra-mãe, bebem como nós da mesma chuva, são abençoadas pelo mesmo sol que nos aquece, à noite descansam sob o mesmo firmamento estrelado!

Recebemos a sua sombra, a sua beleza e imponência, ficamos deslumbrados pela sua longevidade, são as nossas amigas, enriquecem os nossos jardins! Somos pequenas gotinhas de água no oceano da sua experiência!

Olhá-las é um mergulhar no passado, um encontrar o futuro, elas já lá estavam muito antes de nós, elas estarão lá muito para lá do que possamos imaginar. Estamos aqui e agora e veneramos estas velhas e maravilhosas senhoras, que, como bem sabemos, morrem de pé.

Minhas Senhoras, bem-hajam por existirem e nos maravilharem com a vossa abençoada e majestosa presença na nossa tão fugaz passagem por aqui.




sábado, 24 de julho de 2010

Sputnik, meu Amor - Haruki Murakami



Foi o meu primeiro encontro com Haruki Murakami e fiquei rendida.

A sua escrita é de uma simplicidade e de uma frescura que nos agarra e conduz pelas vidas das três deliciosas personagens. Este livro é um ensaio poético sobre o desejo, a solidão, o destino, a amizade, as relações da alma. É uma escrita que respira, muito introspectiva, que busca o eu mais profundo, aquele que quanto mais procuramos, mais nos escapa. O ritmo é muito bem marcado. Os diálogos são profundos. Nada é supérfluo.

"A percepção não passa da soma dos nossos mal-entendidos. No mundo em que vivemos, o que sabemos e o que não sabemos coexistem num estado de perfeita confusão, fatalmente ligados, como gémeos siameses".

Sente-se o fascínio deste japonês pelo ocidente nas referências aos vinhos, à música clássica, à Grécia. Esta mescla oriente/ocidente que percorre todo o romance é parte do seu encanto.

Sputnik começa por parecer um estranho título. Resulta de um mal-entendido entre as duas mulheres mal se conhecem: uma confunde beatnick com sputnik, que significa "companheiro de viagem" em russo. Faz, afinal, muito sentido: este livro é todo ele uma viagem, uma busca constante de um sentido para a vida, de um companheiro para a alma, de alguém para amar, de algo mais que está mesmo ali e sempre escapa. E esta viagem poética por três solidões que se cruzam e  se afastam, se fundem e se perdem é uma viagem em que nós também participamos. Nós viajamos por e com este livro, com estes três seres. Viajar é sempre mais belo que chegar. Daí a pena que sentimos quando acabamos esta fascinante viagem deste Sputnik. Não foi uma viagem espacial, mas foi uma viagem especial.

Haruki Murakami é a minha praia. Como adoro praia, voltarei a ele muito em breve.





domingo, 18 de julho de 2010

"O escritor fantasma" - Roman Polanski




Um trhiller espantoso! Roman Polanski, como grande mestre do suspense, tem aqui uma das suas obras de primeiríssima água.
O filme começa devagar, de uma forma mais ou menos banal e vai subindo, subindo, prendendo a nossa atenção e a determinada altura estamos completamente mergulhados na trama, à espera, sem saber de quê, nem como, nem quando. Estamos agarrados à cadeira, ao enredo. Nada é o que parece. Tudo e todos  encerram qualquer possibilidade. É um thriller moderno, mas é um clássico. Nem demais, nem de menos. Está na conta certa. Tal e qual o que qualquer filme deste género deveria provocar.
E aqui acontece mais: as personagens são aquelas, porque não poderiam ser outras: são perfeitas q.b. Ewan McGregor é o escritor-fantasma que daria verosimilhança àquele papel: tem tudo o que é preciso. Pierce Brosnan é perfeito como P.M., quando aparece enche o ecran. Olivia Williams, como mulher do P.M., é excelente neste  papel.
E a crítica política está lá, o dedo é colocado nas feridas, os envolvimentos subjacentes à política são bem explícitos.
Está lá tudo.
É um dos melhores filmes deste ano, dentro do género. A não perder, para quem gosta de cinema.
Polanski é um realizador maldito para os americanos e, depois deste filme, vai ganhar ainda mais inimigos na América e não só!


quinta-feira, 15 de julho de 2010

Escrever não engorda...


Escrever é como comer, mas ao contrário.

Na nossa vida, a comida começa por ser uma necessidade essencial à nossa sobrevivência e ao nosso crescimento e, com o passar do tempo, vai-se tornando num prazer.

A escrita começa por ser um prazer e, com o passar do tempo, torna-se numa necessidade que nos ajuda a crescer e a viver com mais qualidade.

Em ambos os casos, a necessidade e o prazer andam de mãos dadas numa grande cumplicidade.

Mas escrever  tem uma grande vantagem: não engorda.

Até pode engordar, mas só se não se fizer ginástica, mental, claro!




terça-feira, 13 de julho de 2010

Lisboa vale sempre a pena!




Um café no último andar da Polux dá direito a esta vista panorâmica. Um café muito bem acompanhado!

segunda-feira, 12 de julho de 2010

A máquina de fazer espanhóis - Valter Hugo Mãe


Foi a minha iniciação à escrita de Valter Hugo Mãe e fiquei completamente fã.
A máquina de fazer espanhóis fala de nós, portugueses. É uma análise encantadora e desencantada de quem somos.
Ele dedica o livro ao pai, que não teve o direito de viver a terceira idade. E leva-nos a visitar essa idade maior pela cabeça e pelo coração de António Silva, de 84 anos. Tudo começa no dia da sua maior perda: a morte do sua querida mulher, a companheira de vida sem a qual nada já faz sentido. A memória do seu amor eleva-o e enterra-o. Mas as novas amizades e aventuras do Lar Feliz Idade, o armazém de velhos onde a filha o deposita,  vão ampará-lo e até acordá-lo para outras realidades.
"Aprender a sobreviver aos dias foi como aceitar morrer devagar." "A manha é a arma mais sofisticada dos velhos." "Apenas a gestão do tempo pode fazer-nos escapar à loucura."
Podemos também assistir como aos oitenta se pode  regressar às traquinices da infância e como pode voltar a saber tão bem! "Não têm vergonha na cara, estes homens desta idade, parecem putos, éramos velhos tolos a trazer da tolice uma promessa de vida qualquer."
A ditadura está sempre na memória: "que o regime se nos metia pela pele adentro como um vírus. ficávamos sem reacção, íamos pela vida abaixo como carneirada, tão bem enganados." "a ignorância é que nos pacifica, a paz está toda metida na ignorância, pronta para levar as pessoas à felicidade, e isto era a receita do regime."
E emite opiniões políticas, para não nos deixarmos adormecer: "que merda de palavra, o progresso, e o sucesso e tudo quanto o capitalismo usa para nos pôr  a competir uns com os outros."
Com ironia, vai apontando verdades tristes: "os cães no algarve têm de aprender a miar, porque ali ninguém sobrevive sem falar duas línguas."
E, como invade a vida, deus também invade a escrita: "deus, esse olho gordo aberto nas nossas cabeças." "também inventamos deus porque temos de nos policiar  uns aos outros." "os homens acreditam em deus porque não são capazes de acreditar uns nos outros."

Este livro faz-nos pensar, e muito, sobre a vida, a morte, o envelhecer... É um estímulo para dar voz à terceira idade e exigir para a última fase da vida um papel mais digno e mais vivido em qualidade. Arranca-nos lágrimas e sorrisos.
Valter Hugo Mãe é um escritor muito autêntico, com uma escrita muito forte sobre o que nos toca, o que vivemos e o que temos direito a viver. Não nos deixa indiferentes, não escreve para nos entreter. Dá-nos alguns murros no estômago e depois brinda-nos com momentos da maior ternura. Faz-nos pensar sobre a nossa condição e obriga-nos a reanalisar algumas realidades.

"precisava deste resto de solidão para aprender  sobre este resto de companhia, este resto de vida, que eu julguei já ser um excesso, deu-me estes amigos, e eu nunca percebi a  amizade, nunca esperei nada da solidariedade, apenas da contingência da coabitação, um certo ir obedecendo, ser carneiro, eu precisava deste resto de solidão para aprender sobre este resto de amizade."

Melhor é impossível: o encarar a parte final da viagem com esta poesia e este aproveitar do que a vida continua a reservar e que ainda é tanto!

Aprende-se todos os dias até ao último!


 

quinta-feira, 8 de julho de 2010

As obras completas de William Shakespeare em 97 minutos






Fui finalmente ver esta comédia que apresenta as 37 obras completas do  dramaturgo inglês em 97 minutos (agora aumentada). Adorei.  Deu para perceber porque está em cena há mais de 13 anos! João Carracedo, Manuel Mendes e Simão Rubim são fantásticos na representação, na improvisação e na interactividade  com a plateia. O texto é hilariante. Valeu a pena!




segunda-feira, 5 de julho de 2010

A arte, a vida...





"Tudo quanto não fôr vida, é literatura. A pintura não é mais do que a literatura feita com pincéis. Quem não pode escrever, pinta ou desenha". A literatura, segundo José Saramago.
O professor José Fanha diz: "A poesia é a arte de pintar com palavras. O trabalho da poesia é ir buscar o melhor de nós mesmos".
Se é literatura, poesia, pintura, escultura, é arte e não pode deixar de ser uma grande paixão!
Quando alguém escreve, pinta, cria um poema, está a transformar a sua relação com aquele bocadinho de sonho/realidade e a criar algo de novo, que passará a outro, que, por sua vez, o vai absorver à sua maneira, transformando-o pela sua própria interpretação. E já não é só o que foi inicialmente criado, é isso e mais algo de novo que o outro também juntou, algo com novas cambiantes, outra perspectiva, outra realidade. Isto é a arte: um dar e receber, um acrescentar, uma constante mudança, tal como a vida, como a verdade. Tudo depende de quem vê, de quem analisa. Qualquer obra só o é quando vista por outrem além do seu criador.
Nada é assim e ponto. Tudo encerra em si todas as possibilidades.  Esta é a grande maravilha e aventura da arte, que imita a vida, ou será que é a vida que imita a arte?


domingo, 4 de julho de 2010

O velho que lia romances de amor - Luís Sepúlveda




Este é um romance de aventuras e de amor pela natureza, pela floresta, pelos animais, pelas pessoas simples.
Luis Sepúlveda dedicou o prémio  Tigre Juan que recebeu por este trabalho a Chico Mendes, um verdadeiro defensor da Amazónia, membro do Movimento Ecologista Universal, que foi morto numa emboscada justamente devido às suas ideias e acções a favor desta causa.
É um livro brilhante. Uma escrita viva, rápida, poética e irónica, humana e que nos prende, nos faz viver cada momento com pena de o deixar.
O tema mágico do livro é a grande floresta. António José Bolivar Proaño é o protagonista que conhece a floresta como ninguém e nos guia pelos seus mistérios. A sua paixão é a leitura de romances de amor. Ele que mal sabe escrever e que aprendeu a ler  intuitivamente, quase por magia, por uma força que vem de dentro e nos toca a nós leitores cá dentro. A sua missão da caça ao felino que atormenta aquela pequena comunidade é descrita de uma forma tão fantástica que nós estamos lá também. Os sentimentos que o atormentam face à onça até à luta final são nossos. Vivemos esta aventura a seu lado.

Luís Sepúlveda no seu melhor para nosso deleite. É um livrinho delicioso a não perder!



quinta-feira, 1 de julho de 2010

Cegonhas, essas aves maravilhosas!




Estas estavam na Comporta, convivendo em grupo e tomando conta das suas crias... Sempre lá nos altos. Os locais já as sentem como parte integrante das suas vidas e da sua terra. São umas encantadoras vizinhas. Não emitem sons vocais, porque não têm faringe, mas fazem um barulho muito engraçado batendo com o bico. Têm um porte muito digno! São elegantes. Monogâmicas e muito sociáveis! A Comporta comporta muitas famílias. Nos anos 80 estiveram em vias de extinção, mas estão a regressar em força ao sul do país para o enriquecerem. Ainda há quem queira vir viver para Portugal! Inocentes cegonhas!
Se podíamos viver sem elas? Podíamos, mas não era a mesma coisa!