terça-feira, 17 de julho de 2012

vai-se... assim, assim




Alastra um eco

Silencioso

Riscando esta noite negra sem tempo.

Penso

E dói

Em lâmina afiada

Cortando e abrindo

O avesso do meu sentir.

Vai-se indo, assim, assim



Fogo dança

Pelos trilhos do meu corpo

A espantar

O cinzento frio

Deste Inverno

Feito mancha

Oxidada sem tempo.

Vai-se andando, assim, assim



A dor

Ilumina

Em arco-íris

Riscado nas paredes

Erguidas pelo medo

Prisão-ninho

Da minha solidão

Em posição fetal.

Vai-se vivendo, assim, assim



Um grito

É lançado

Em precipício de espelhos

Partindo

Em explosão de eus

Vivendo cá dentro

Passageiros

Em permanente

Viagem

Por labirintos de alma.

Vai-se partindo, assim, assim

domingo, 1 de julho de 2012

Desdorientada




O poema está desfeito,

Como se o passado descesse as escadas,

Degrau a degrau,

Devagar,

Devagarinho

Para doer mais…

Desço

Ao fundo de mim,

Degrau a degrau.

As pernas cansadas

A dor nas pernas

São as saudades a morder as canelas do poema.

Poema passado,

Percorrido

Verso a verso,

Degrau a degrau

Até ao fundo de mim.

Saudade

Dum futuro que não existe.

O poema morreu.

 Ali

No fundo

Como se o mundo

Fosse o que vejo

Da minha janela

Virada para mim

E cheia de mundo.

O poema era tudo,

Era profundo,

Era isso tudo,

Era o mundo!

O meu mundo!

O poema iluminado

Como se a lua

Estivesse presa

À electricidade.

E, de repente,

Não mais que de repente,

Tivessem cortado a luz.

Como se eu não tivesse pago a conta…

E agora

Sem luz

Não vejo o poema…

Apalpo as sombras das palavras,

Tateio os lugares dos versos

Mas não consigo lá chegar.

O poema brinca comigo do além

E eu morro de saudades,

Aqui,

Agora.

Só,

Sem poema,

Sem lua,

Sem electricidade.

Que pena!

Estou nesta enorme tensão

Entre o passado e o futuro.

A dor perdeu a orientação.

Simão, o sacerdote sonhador




Sofia sorria seus sensuais sorrisos significantes e significativos. Suspensos em suculenta sensibilidade. Suficientemente sábia e sinuosa. Sob a superfície serena de um ser sentimentalmente satisfeito, subsistia um subterrâneo de safada e sumarenta sexy symbol.

Sentia-se soberana, senhora de sumarentas seivas, um supra-sumo de sexual sabedoria.

Sorria e sortia sacrílegas sensações em Simão. Simão era sacerdote. Sacrificado ao Senhor. Sentia suores soterrados, súbitas sensações de sensuais substratos silenciados. Sementes sofridas de sítios sobrevalorizados em sonhos.

Sentia-se sortudo e sacrílego sempre que Sofia lhe sussurrava segredos suspirados. Soltavam-se-lhe sentimentos surpreendentes, sentia strip-teases sentimentais. Soluçava de si para si e de si para o Senhor.

Seus suculentos sonhos eram semeados de Sofia, sugando-o sofregamente. O seu sabor sonhado. Sofia, serva e Senhora. Simão satisfaz o seu super sensual sentimento em sonhos saboreados secretamente.

Special Sofia! Simplesmente soberba! Séculos e séculos de sensações saciadas. Pelo sonho é que somos. Sonhamos, sumamos, saboreamos, sentimos, sofremos, somos.

O selo do sonho silencia o som do sofrimento.

Simão tem uma Senhora em sonhos sacrílegos e secretos  e um Senhor em santidade no sacerdócio que sente.