quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Meu Amo e Senhor



Nasci para te seguir

E tu existes para me possuir.

És o sol

E eu sou a lua.

Não existo sem ti

Brilho para ti

És meu

Porque eu sou tua.



Possuis-me

Tão completamente…

És o meu amo,

Mas não te amo.

Sigo-te

Cegamente…

Não é amor,

Não é paixão.

Não,

É diferente…

É servidão.

Sou tua escrava

Para o bem,

Para o mal…

Sou tua refém,

Eu,

Que pensava

Liberdade total.

Que desespero!

Sei lá se te quero…

Mas é-te indiferente

Tu mandas,

Meu Senhor,

Meu carrasco,

Meu terror.



Por montes e vales,

Por encostas,

Pelos rios,

Pelos mares,

Por bens,

Por males,

Pelo solo,

Pelos ares

Sigo-te.

Sei o que vales!

Amigo?

Inimigo?

Possuis-me

Completamente.

Sou tua,

É-te indiferente

O meu querer.

És dono e senhor

Do meu ser.

Possuis-me

Completamente.

Sou tua.



Tempo,

Passa tempo,

Contra tempo,

Tempassar.

Tu tempassas,

Tu tempassaste,

Tu tempassarás.

Fica,

Fica comigo,

Meu Senhor,

Meu amigo,

Inimigo…

Possui-me

Completamente.

Fica comigo,

Não tenhas pressa,

Devagarinho.

Quanto tempo falta?

Quanto já gozámos,

Ou gastámos,

Ou ganhámos.

Há um tempo total?

Descontamos cada momento?

Contagem decrescente,

Somente…



Vai-me possuindo,

Eu deixo,

Já não me queixo.

Passatempo,

Passa tempo

Passa em mim.

Mas fica,

Não me deixes,

Tempo querido

Fica comigo.

Meu Senhor,

Meu Amante,

Meu Amo,

Eu já te amo.

Passa tempo

Sem fim.

Fica comigo

Não tenhas pressa

Não tenhas fim.

Fica em mim

E por mim.

Isso,

Possui-me

Assim…

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Qual é a coisa qual é ela



Cor quente, que aquece o sentir, o estar, o ser. É uma cor batida, como a batida desse coração que bate com cadência no seu esforço de fazer viver. E é uma cor que trouxe do sangue a sua força.

É útil na sua forma que se forma de cada vez para suportar as formas de outras formas. Envolvente. Quente. Conhece tanta gente! Tanta gente que o mirou, o escolheu, o espremeu, o machucou. Que sonhou nele. Que apoiada nele chegou mais fundo numa conversa. Ou não! Alguém que foi tão fundo na sua solidão que descobriu outros eus. Qual Pessoa! Mas tantos Pessoas! Tantas pessoas!

A forma é perfeita. Forma e cor estão perfeitamente fundidas. Apelativas. Apelam a ir além do prazer estético. Reconfortam o momento e vão mais dentro. Pela sua forma e cor adentro. Por dentro.

Bom que é ajudar os eus! Ser maltratado por eles. E chorar sem lágrimas deitar. E sussurrar sem som. E sentir dor. Eles pensam que é coisa, não sente. Mas sente! Sente o que sente toda essa gente!

A dor da mulher traída. A alegria do puto que chupa o gelado. O gozo do poeta que se apaixonou pela suas palavras.

E os cheiros, como adora os cheiros! O do café acabadinho de fazer… o daquela bela e sensual criatura… E como também sofre com alguns cheiros! O daquele sem abrigo que cheira a vida sofrida… o daquela mulher criança que se vende na esquina. O seu drama são as tantas vidas que sente, que lhe pesam, que o oprimem.

A sua alegria e a sua razão de viver é apoiar os outros. Todos. Os bons e os menos bons.

É uma boa vida a sua. Está bem naquele cantinho do café, sossegado e discreto. Um sofá vermelho no meio de tantas mesas e sofás cremes naquele café Brown’s da Baixa Lisboeta!