domingo, 29 de dezembro de 2013

Ninguém

 
 

Ninguém

acordado

que me oiça,

logo hoje

que preciso

de um ouvido

amigo.

Mas é tão tarde

e os ouvidos

estão desligados,

os olhos fechados,

as mãos rotas!

Ninguém

que me liberte

estas palavras

que sufocam

de não ser ditas.

Apenas escritas.

Uma orgia

de palavras

e ninguém

para participar

neste festim.

E as palavras

sem ninguém

morrem

nos cantos da boca,

escorrem

e babam-se

e caem no chão

e desfazem-se

em mil letras

e espalho-as

pela janela fora.

Agora voam

livres e felizes

sem palavras

nem frases

que as prendam.

Vou dormir

libertei as letras,

as palavras,

as frases.

A cabeça

sossegada

já pode dormir.

Apago a luz.

Escuridão

sem palavras.

Ninguém.

Nada.

Silêncio mudo.
 

sábado, 28 de dezembro de 2013

Gato


 
 
 

Gato

deitado ao sol,

espreguiçando

a sua liberdade

demorada

sedutoramente.

És um ser

livre.

Só fazes

o que queres fazer.

Olho a tua majestade

enigmática,

o teu poder,

amigo

e sei que tenho

muito

a aprender

contigo.

Gato

meigo e distante

ronronante e alerta

um olho fechado,

o outro já desperta.

Bicho divino,

és vadio,

és livre,

és um felino

que atrais

a minha vontade

de te conquistar.

Que inveja

de ti,

livre,

dengoso,

felino,

gostoso.

Sete vidas

para viver,

sete vidas

para aprender

a encantar

por aí...

Gato,

gosto tanto de ti!

domingo, 17 de novembro de 2013

Silêncio




Silêncio
raiz do pensamento,
essência primordial
da palavra.
Silêncio
que mata
ou salva.
Silêncio
é a voz
de uma alma magoada.
Silêncio
grandes espaços
parados
imóveis
sagrados.
Silêncio sepulcral
de todo o bem
de todo o mal.

Quantos silêncios
tenho em mim?
Quantos sofrimentos
sem som?
Quantas alegrias
guardadas?

Palavras
pedras lançadas
em silêncios desejados?
Ou palavras que salvam
de solidões silenciosas?
Silêncio é o tudo ou é o nada?
Uma escolha ou um carrasco?
Chiu!
O silêncio caiu.
 
 

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Insónia



Fragmentos de passado
em aparições,
problemas crescem
ampliados pela noite.
Amigos e inimigos
são visitas passageiras,
passado e futuro
coexistem,
criam bichinhos
de possibilidades.
Vivências
misturam-se
com ausências reais
para aumentarem
a confusão instalada.
E a vontade
a querer dormir!
E a festa dos convivas
ensurdecedora!
E os dias
a invadirem as noites
e os fantasmas
a povoarem
as sombras
do quarto...
E o querer dormir
a dizer basta!
E o arraial interior
cada vez mais animado!
E o querer
a tentar
seguir os caminhos
do silêncio,
da respiração.
Mas ainda não.
A insónia
é uma visita
nao convidada
que invade
a nossa casa
e se instala
como se a casa
fosse sua.
Que melga!
 
 

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Lágrima



Lágrima
é a gota que transborda
da taça
cheia de emoções.
Solitária
ou caudal,
oportuna
ou fatal,
lágrima
é desassossego.

Lágrima
de dor pura,
de alegria,
de lavagem de alma,
a lágrima alivia
e acalma
o sentir.

Mas há lágrimas
para dentro
que formam lagos interiores,
lágrimas íntimas,
de solidão,
desamores
e secretos amores
e diabos internos
e deuses inomináveis.
 
 

 

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Rugas



Rugas são sulcos
caminhos vincados
estradas traçadas
mapas de vida
em rostos com vida.
Rugas são marcas
de expressões vividas
com a força
do uso do tempo.

Mas serás jovem enquanto o teu entusiasmo te marcar rugas no rosto, mas a tua alma se conseguir empolgar com a aventura de viver.
Rugas na cara são sinal de vida. Rugas na alma são morrer em vida.
 
 
 


domingo, 20 de outubro de 2013

O beijo




Mais que um desejo, um beijo! 

Eu em ti, tu em mim

Confluências de sentires

Mundos que se tocam

Beijo de amor

Carinho

Sedento

Devagarinho

Urgente 

Apaixonado...

Mas há o beijo dos beijos 

O que deixa marca

O beijo da alma

Na alma

Não há tempo que o apague

Uma marca indelével

Beijo de carne feito espírito

Beijo sem tempo

Fora de tempo
 
Beijo de deuses!



quinta-feira, 10 de outubro de 2013

A luta

 
A luta
é o chorar
do recém-nascido
ao entrar
no mundo desconhecido.
É continuar
depois de mais um sonho destruído,
é lutar
com armas desiguais
e nunca se dar
por vencido.
A luta
é disputa
com a vida,
com alguém,
até contigo,
é querer
ir além
do próprio umbigo!
É partilhar
o que se tem
com um amigo.
A luta
é doer fundo
a morte dum companheiro
e continuar
pelo mundo
desfeito
mas inteiro.
É ir ao fundo
e voltar
e continuar
renascido
e verdadeiro.
A luta
pela liberdade
pelo direito
de ser diferente,
pela igualdade
pelos mais fracos
por um
e por toda a gente.
A luta
continua sempre!
 
 
 
 

domingo, 6 de outubro de 2013

O grito

 
Grito, uma aflição de dentro que procura o infinito
Pedido de ajuda de alguém aflito
O deixar sair um sentimento encerrado
O abrir a gaiola a um pássaro aprisionado
O chamar alguém que nos vai fugir
A voz a alcancar um lugar inacessível
O conseguir chegar onde não se pode ir
O largar pelo ar um sonho impossível
Grito, lamento, chamada, tormento,
Tudo o que começa do nada
Grito, o silêncio crescendo em desespero de alma.
Grito para acordar a calma
Grito com a alma!
 
 
 

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Sombra




Corpo e sombra são os meus pertences. 

E sombra nunca ao meio dia. 

Nunca à noite. 

Morrerá meu corpo e, sem sombra de dúvida, a minha sombra com ele morrerá.

Fiel cadela que não sabe viver sem a dona! 

Nem um momento lhe sobrevive!

Sombra, minha mais íntima amiga, companheira de todas as caminhadas! 

Nunca me abandonarás, ficarás comigo mesmo quando todos se afastarem... 

E como eu, tens infinitas formas!

Querida sombra, a sombra do pecado!

 

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Vagabundo




Vagabundo,
Vagamundo, 
Vagafundo. 
Vaguear pelo mundo
É um destino comum
Errando por aí
Errando para acertar
No desacerto do mundo 
minha alma a vagabundear


 

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Sentidos consentidos


 
 
Golfadas de realidade

Despejadas

Na minha cabeça

Vindas por todos os sentidos

Atordoando

Os sentimentos sentidos,

Com sentidos…

Realidade ou ficção

Feia

Seja lá o que for!

Fujo a cavalo

Num sonho

Que me teletransporta

A um bem-ser

A um bem-estar

Impossivelmente

Reais,

Fora do tempo…

Um presente de tempo

Intenso

Um relógio sem tempo

Suspenso

Um sentir

Que o mundo

É de cores

Novas,

Sem nome.

E as palavras essenciais

Sentidas

A brotar do coração

Indizíveis

A boiarem

Num enorme lago de ternura.

Sonho novo

Indelével

Destrói

O que te impede

De seres construído,

Sentido,

Consentido…

Já sinto o coração

Da Terra

A bater dentro de ti

Em mim

Ânsia de bater asas

E inaugurar mundos!

 

domingo, 21 de abril de 2013

Vou apagar as estrelas




Vou apagar as estrelas

Para que a lua

Gorda e branca

Dance sozinha

Lua rainha

Na noite

Que caiu em mim

E acendeu os olhos da gata

Que ronrona aconchegos aluados

Que fingem dormir

Meio acordados.

Sim!

E só com a luz da lua

Vou acender

Uma vela

Que vela por ti e por mim

Sim!

Dorme bem, meu amor

Eu velo por ti,

Já apaguei as estrelas…

 


domingo, 7 de abril de 2013

As nossas tardes são verdes




As nossas tardes são verdes                      

como o jardim lá fora

Como o chá verde                            

que demora

Como a nossa amizade

Que germina

Em verdes momentos

Do dia que em breve termina.

 

As nossas tardes são verdes

De contentamento

Esverdeadas de esperança

Viradas para o jardim

E o tempo que cresce sem tempo

Neste tempo de mudança.

 

Semeando a tarde verde de palavras,

Descobridoras de mundos

Lábios de palavras viciados,

Sem pressas

Em voos parados

De pensamentos vagabundos.

 

 

Verde o prazer

dos gostos saborosamente lentos

Grandes caminhadas

Mesmo ali paradas

Desfiando a vida em momentos

De entusiamos, de sonhos

Ou tristezas partilhadas

Em pequenos grandes nadas.

 

 

O tempo sem tempo

Vai passando assim

Gostoso, pleno

E vai ficando, Amiga,

Em mim

E em ti,

Acredito

Pelo teu sorriso tão bonito…

A nossa amizade é verde

Cor do infinito!

Tenho dito.