Ninguém
acordado
que me oiça,
logo hoje
que preciso
de um ouvido
amigo.
Mas é tão tarde
e os ouvidos
estão desligados,
os olhos fechados,
as mãos rotas!
Ninguém
que me liberte
estas palavras
que sufocam
de não ser ditas.
Apenas escritas.
Uma orgia
de palavras
e ninguém
para participar
neste festim.
E as palavras
sem ninguém
morrem
nos cantos da boca,
escorrem
e babam-se
e caem no chão
e desfazem-se
em mil letras
e espalho-as
pela janela fora.
Agora voam
livres e felizes
sem palavras
nem frases
que as prendam.
Vou dormir
libertei as letras,
as palavras,
as frases.
A cabeça
sossegada
já pode dormir.
Apago a luz.
Escuridão
sem palavras.
Ninguém.
Nada.
Silêncio mudo.