domingo, 28 de setembro de 2014

Hoje não posso ver ninguém




Hoje não posso ver ninguém,

tirei o dia para mim,

sou assim!

Tenho dias de anti-social,

não me levem a mal,

há dias assim

em que ando a tomar 

conta de mim!

Vou estar só comigo,

lamber as feridas,

espreitar o meu umbigo,

ser gata tomando banho de calma,

lamber-me até ao fundo,

até à alma

para amanhã voltar ao mundo

e ver o quão bom foi hibernar

feita gata sem dono,

mostrar a barriguinha ao sol,

votar-me ao abandono de existir

só pelo prazer de gozar o calor do sol,

espreguiçar a minha vidinha,

comer e beber e ser só uma gatinha

que amanhã volta à vida

com dono, com festas, com gente,

tão querida,

tao ovelha no rebanho,

do seu normal tamanho,

redimida,

de volta à vida de gata integrada, cordata, felina só em part-time,

com açaime, 

ão, ão, miau,miau,  fffff!
 

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Gosto desta palavra Mar

 

Gosto desta palavra Mar,

que me sabe a sal

e me molha de um azul esverdeado sem igual.

Gosto da palavra Portugal

tão ligada ao mar

e a outra palavra que é Amar,

ligada ao País e ao Mar e às Marés,

todas iluminadas pela palavra Lua que me é redonda

e cheia de Noite,

criadora da palavra Luar

para nos inspirar!

Gosto da palavra Poema

ligada a todas as outras

pela pena do poeta,

um esteta de todas as palavras

escolhidas com todo o critério

e que voam como um pássaro

e entram em nós pelo mistério

de fazer o ninho na nossa alma

e criar a beleza que nos faz voar também,

sempre além

do simples ato de existir.

Existir sim, mas com asas!

terça-feira, 22 de julho de 2014

Olho para o céu imenso




Olho para o céu imenso e penso

como a vida nos ilude,

nos parece eterna na nossa juventude,

nem pensamos na morte,

mas com o tempo

vamos encontrando a nossa finitude

e ninguém é tão forte

que aguente este barulho do medo a pensar!

Sabermos que fazendo está feito,

é irreversível,

como nos tolhe

saber que se escolhe

sem poder voltar atrás, é terrível!

Tragédia e comédia no mesmo saco,

o todo colidindo com a parte,

só pode ser

que a vida é uma invenção da arte!

E não há mortal artista que consiga dominar

a arte de viver,

vai criando, dominando, vai vivendo por aqui

até à ultima obra quando parte

já sem arte!

sábado, 14 de junho de 2014

Oásis




Quando sopram ventos de inquietação,
quando tudo esta às avessas,
quando o mundo parece virar as costas,
quando procuro e nao acho solução,
quando busco e não encontro respostas,
tu estás ao meu lado,
sem exigências,
sem perguntas,
sem apontar o dedo,
sem quaisquer reticências,
sem conversas sem sentido,
saem ocas filosofias,
sem falsas roupagens,
de braços fechados à volta de mim,
a vestir de ternura os meus dias,
buscando a coragem para seguir em frente...
És o meu oásis, amor,
onde repouso sem maquilhagem
naturalmente!

domingo, 8 de junho de 2014

Da luz nada sei





Da luz nada sei,

sei da sombra que projectei

de mim mesma

e dessa também pouco sei!

Sei que está sempre em mudança,

se alonga, não se alcança,

se move, se saracoteia,

e salta e vai e volta

e dança e cresce

e desaparece

e serpenteia

e nunca a apanho

e muda de tamanho...

Da luz nada sei,

da sombra pouco sei.

Sei mais da noite

que sempre me cobriu

com seu manto

do tamanho dos meus sonhos,

ovos estrelados

para molhar o pão

amassado nos dias de luz e sombra.

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Diário das coisas por acontecer





E as coisas que eu não disse?

E as coisas que eu não escrevi,

e as coisas que eu não quis,

e as coisas que...

Tantas coisas que ficaram por ser,

vou começar a escrever 

o diário das coisas por acontecer.

Um trabalho eterno

das inúmeras possibilidades perdidas

preciso de muito mais que um caderno

e muito mais vidas!

domingo, 20 de abril de 2014

Deambuladora



Resolvi andar na rua

sem destino, sem pensar,

pelo gozo de andar

e ver e ser

mais uma no meio de tanta gente!

Sentir o pulsar da cidade,

do ruído,

dos que tem pressa,

dos que nada vêem,

dos que são estátua

à espera do meu olhar,

dos que pedem nas esquinas do tempo,

dos que nem têm tempo para olhar

quanto mais para ver!

Vagueio

feita deambuladora

embrulhada em sentires

com um poema de amor

por todos os que vejo

a crescer-me na cabeça,

a sentir-me boazinha por dentro,

que ninguém vê!

Por fora

sou apenas uma turista

do acontecer

na cidade mais bonita do mundo:

a minha,

Lisboa!

terça-feira, 8 de abril de 2014

Alma de poeta




Ter alma de poeta

é ver a lua cheia

numa noite de tempestade.

É cantar a vida

feita revolução

num cravo vermelho.

É ver numa nuvem

em forma de nuvem

um deus revelado.

É receber o segredo

do espírito do tempo

guardado numa pedra sem idade.

É apontar o dedo,

pôr a mão na ferida

das injustiças.

É sangrar em todas as cores do arco-íris

para pintar a dor.

É ter asas e voar

para além do próprio voo

até ao pais dos poetas.

É regressar à vida diária

tropeçar na rotina

com a alma cheia 

de pequenos grandes nadas.

É mostrar que o rei vai nu

doa a quem doer.

Num poeta é proibida a apatia!

domingo, 30 de março de 2014

Mar





Amar o mar

espraiar nele o meu olhar

e azular o meu dia,

crescendo com a maré,

feito poesia

por acontecer.

Mar beijando a areia

em ondas de maré cheia.

E eu cheia de vontade de me encher

dessa tua força e remar

contra a maré do oco

do não acontecer

o pleno do sonho tão sonhado!

Mar lava o meu mal,

fortalece-me com a tua beleza,

tempera-me com teu sal.

Solto esta lágrima,

lambo-a e sabe-me a ti, mar.

Amar-te, mar!

 

sexta-feira, 21 de março de 2014

Lisboa


 
Amiga e companheira desde que nasci,

cresci contigo,

mútuas testemunhas das nossas mudanças,

apaixonei-me por ti.

A tua luz é a minha luz,

o teu ruído ecoa em mim,

estás presente em todos os momentos,

já não é paixão, tornou-se amor sem fim.

Lisboa, meu berço, meu lar, minha cidade,

como eu envelheces, mas vives sem idade,

sempre por dentro rejuvenesces.

Lisboa, meu amanhecer,

companheira de vida,

és constante, sei que estarás na despedida,

vais comigo até ao anoitecer.

Obrigada, minha cidade, companheira, minha amiga.

domingo, 16 de março de 2014

Um abraço





Dar-te um abraço

com braços

feitos de alma

leve

tecido na amizade

que sai de mim

para ti

e volta e dança

e flui

e não se cansa

de existir.

Um abraço de alma

sem tempo

acalma

o nosso ser

e faz-nos acreditar

que a vida é bem mais

do que este correr

nem se sabe para onde.

Um abraço,

amiga,

para te dizer

o quanto gosto de ti.

Um abraço

apertado

transmite tudo

e a vida sorri

para mim 

e para ti.

O nosso traço

de união.

Agradeço aos céus

por estares aqui

no meu coração

aninhadinha!

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Festa das palavras

 
 
 
Palavras leva-as o vento
tão forte como o pensamento,
decididamente 
a palavra quer entrar!
Bate leve,
levemente
- Posso entrar?
- Entre
e ela entra lentamente
e diz que quer ficar.
E traz
as amigas atrás.
Palavras aos saltinhos,
começam a dançar
em frases,
devagar devagarinho
e a festa a rebentar.
Que alegria,
que festança,
as palavras
e a dança
das frases em euforia
conquistando
seu espaço
há festa até ser dia,
cada uma em seu compasso
as frases vão-se formando,
tudo a entrar-me na cabeça
expulsam as coisas más,
cada vez mais depressa
e os pensamentos
vão atrás.
Viva a festa!
Não há festa como esta
e as palavras a entrar,
a dançar
e a ficar.
O poder da palavra a reinar
e o pensamento a gostar.