Gaivota, quem me dera ser,
Ter asas,
Reais,
Voar como as demais.
Ver por cima,
Longe,
Só o belo,
O puro,
O colorido,
Rasar só a beleza
Que chama o meu sentido.
Viver por cima,
Acima,
Não tocar,
Apenas passar,
Roçar o ar
E voar, voar, voar…
Até não mais aguentar
No ar.
Não ter cicatrizes,
Passar, rasar,
Não deixar criar
Raízes.
Apenas sentir,
Dançar,
Ir por ir,
Sem razão,
Sem um fim,
Até ao fim,
Até o mais fundo de mim.
Andar no ar,
Dançar,
Sobrevoar,
Ser livre,
Ver o nascer
E o morrer
Do sol
No mar.
Desfrutar.
E poder cantar
E acordar
Todas as manhãs
E brincar
E comunicar
Com as gaivotas irmãs.
Fazer um voo profundo,
Gozar, gritar,
Planar, correr
E sempre a sobrevoar
O mundo.
Em voo picado,
Direito ao peixe,
Mergulhar,
Pescar,
Comer sem beliscar
A pureza,
O crescer
Do momento,
Puro prazer.
E amar,
Amor que não limito,
Único e primeiro,
Viver e beijar,
Amar meu companheiro
Até ao infinito.
Fazer o ninho,
Criar os filhos,
Trazer comida
Ao seu pequeno bico,
Com todo o amor
Alimentar a sua vida.
E lá vão eles,
Além,
A voar rumo ao infinito,
São da vida,
São do mundo,
Adeus,
Vão voar
Os seus voos,
É tão bonito!
E planando,
Vendo o mundo,
pleno,
Por cima,
Gozando o mais belo poema,
Momento que passa
Profundo!
Gaivota
Quem me dera ser,
Sentir,
Voar,
Ter o prazer,
Da chegada,
Da partida,
Da viagem pelo ar,
Pelo mar,
Pela vida!
Gaivota,
Quem me dera ser,
Poder
Ter
O prazer
De não sentir
Nem ter
De falar,
De pensar
Na vida,
Apenas viver.
Apenas sentir o ar,
A liberdade,
O amor.
Só pela beleza ser possuída.
Não consigo imaginar
Melhor vida.
Gozar o vai-vém,
Voos partilhados,
Picados,
Planados…
Ir sempre além
Nas manhãs,
Nos crepúsculos
Calmos, suaves,
Gozados.
E viver
A essência,
A beleza do momento,
Do segundo.
Nada desejar,
Tudo ter,
Pequeno ser
Que,
Sem ter poder,
Poder ter o mundo.