segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

A nossa Lua



A Lua partiu.

A Lua partiu-me.

Ficou escuro sem a luz da minha Lua.

Ainda sinto a tua presença e por que sinto já a tua falta?

A minha Lua brilhou tão forte, iluminou tanto a minha vida!

A minha Lua mostrou-me todas as suas fases,

Fomos felizes, brincámos tanto, às escondidas…

Depois desafiava-me para as corridas,

Para mais e mais, era um nunca mais acabar de brincadeira.

Com ela eu voltei à infância tantas vezes!

A minha Lua tinha tantas fases e todas eram luminosas

e fez-me vivê-las com ela, as fases da minha Lua!

Às vezes parava e descansava para ter mais forças para brincar o dobro.

Era toda energia e adrenalina

E eu sentia-me revigorar nesse sempre em festa.

Acho que ela sabia que tínhamos de aproveitar,

Que tinha pouco tempo para iluminar as nossas vidas.

Quando a olhava sentia saber que era uma companheira

Para muitos dias e muitas noites, não pensava em fim.

Pensava que sabia …

Nós nunca sabemos nada

Pensamos que sabemos …

O dia da separação não era para nós, não era nosso.

Nossos eram os momentos de alegria, de ternura, de cumplicidades,

De companheirismo.

Nossa era a luz que uma dava e a outra reflectia.

Eu era a segurança,

O colo que ela escolhia quando queria,

Eu adivinhava-lhe o querer,

O precisar,

O sentir.

E ela pagava tudo com aquele olhar!

Quando ficava brava, felina à séria,

Era só mais uma fase da minha Lua e durava segundos …

Já estava a brincar outra vez.

Lua!

Que bem que soa,

Rima com tua, com rua.

Lua!

Tão cheia de mistérios, tão feminina, tão bela!

Já me faltas, com as tuas fases,

Que saudades das tuas fases mais lunares

E das outras, as mais solares.

Brilhaste e coloriste tantos momentos!

Esta saudade de lágrimas feita,

Tirou-me a voz para que eu sofra sem barulhos,

Para que seja o silêncio a evocar-te,

A substituir-te!

O silêncio é a tua ausência, o teu lugar cheio/vazio.

Perdi a voz para não te chamar,

Para que partisses em paz.

Quero que tenha sido por isso!

Obrigada, Lua, minha querida Lua,

Obrigada pelo teu brilho,

Pela tua presença na nossa vida,

Pelas gargalhadas que nos fazias dar a cada momento e que te davam ainda mais pica,

Pelo calor da tua presença,

Pelo conforto que sentíamos só de olhar para ti.

Não querias partir, vi no teu olhar, na tua atitude,

Pensei que dizias que estavas melhor,

Fiquei tão contente!

Mais uma vez enganei-me..

Estavas a dizer que ias partir e eu não percebi!

Guardo esse momento tão doce e tão cruel!

Mas estás cá dentro e hei-de encontrar-te por aí, pela casa em muitos silêncios,

Hei-de encontrar-te sempre que chegue a casa e sinta que me falta algo,

Cada noite que olhe o céu, lá bem alto,

Hei-de ver-te a brilhar numa das tuas fases,

Lua.

Adoro as tuas fases, as tuas faces, Lua!

4 comentários:

  1. Soube por aqui a notícia. Não sei o que te dizer neste momento. Quando li o texto, senti uma tristeza imensa, mas ao mesmo tempo uma alegria por aquilo que escreveste e como escreveste. Só uma pessoa como tu pode fazê-lo com palavras tão acertadas e cuidadas. E ainda por cima só demonstra a grande mulher e grande amiga que és. Porque num momento como este tiveste a coragem de escrever estas palavras dedicadas à Lua. Que bem merece. Ela gostava de saber que escreveste isto para ela. E eu adorei ler. Beijinhos

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  2. Só agora percebi! Como entendo o seu pesar! Que bela a sua escrita e que triste o seu sentir! E que sentir solidário o que sinto no meu peito! Alegre-se, amiga, a sua Lua brilhará todas as noites e, por vezes, estará cheia de Luz!

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  3. Que pena a Lua ter partido. Comove-me a exteriorização do sentimento que se nutre por um animal. Não comento mais nada. Posso magoar quem já está tão fragilizado. Um beijinho

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  4. Fantástico o texto, Júlia. Lamento que tenha sido escrito por um motivo tão triste, mas celebra a vida, a alegria e a passagem da Lua pelas vossas vidas. Um beijo. Alda

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