segunda-feira, 26 de abril de 2010

Trabalho de Maria Júlia Pacheco sobre“As Horas” de Michael Cunningham

Aqui a literatura alimenta-se da literatura e que bela escolha que Cunningham fez! Este livro é uma homenagem do autor a Virginia Woolf. O episódio inicial do seu ficcionado suicídio, como prólogo, centra o tema para a obra.

As protagonistas deste romance representam as três faces de Mrs. Dalloway: Virginia – a que escreve, Laura – a que lê e Clarissa – a que vive.

A vida destas mulheres é medida em horas, em instantes. Cada hora exige a urgência do ser, do viver, do sentir a cidade, do experimentar-se a si mesma, do interagir com os outros, a deliciosa intensidade de cada instante, o acordar para o dia, uma janela que se abre, o salto para a vida ou, finalmente, para a morte.

Num estilo bastante intimista, o autor trata a solidão, a inadaptação e os sonhos que habitam estas vidas. Mrs. Dalloway é a presença inspiradora do romance e das vidas das protagonistas, quer como a leitura que acompanha Laura e interfere na visão da sua castradora vida doméstica, quer como criação literária e companhia de Virginia, quer ainda por ser o nome pelo qual Richard trata carinhosamente Clarissa. O amor à vida e a sensação de não pertença à mesma perpassa por todas elas. A vida e a morte não se opõem, antes convivem.

Cunningham vai fundo na construção destas personalidades, conferindo-lhes uma contenção e uma qualidade que lhes acrescenta às suas vidas reais uma outra vida secreta de sensações plenas idealizadas, um mundo paralelo que as preenche ou as angustia, mas que as acompanha e as torna tão ricas psicologicamente. Ele guia-nos por estes labirintos de intimidade feminina como um verdadeiro expert.

A sua escrita é elegante e sensível, construindo um puzzle onde os fios das três narrativas em três épocas diferentes se encaixam e nos guiam até ao fim tão bem orquestrado! Saborear “as horas” foi um prazer que me alheou da passagem das horas e me aguçou o apetite para reler Virginia Woolf. Reler vai ser melhor que ler, agora estou ainda mais desperta. Cunningham no seu melhor. Tiro-lhe o chapéu!

Nesta fase do PREC-EC (processo de revelação de escrita criativa – em curso), ler um romance com esta qualidade só pode ser inspirador! Ou não! Veremos!

1 comentário:

  1. Que posso dizer? Mais uma vez adorei o texto. O modo como escreve e o que escreve. Também as suas palavras são inspiradoras. Beijinhos

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