terça-feira, 24 de agosto de 2010

As velas ardem até ao fim - Sándor Márai





Sándor Márai é um mestre de técnica narrativa neste belo romance. Alguns consideram-no uma obra-prima da literatura húngara do sec. XX. É uma obra muito bem escrita, densa, complexa, emotiva, com uma escrita muito intimista que me deu muito bons momentos.

É um tratado e uma reflexão sobre a amizade que, tal como uma vela, arde até ao fim. O título é muito sugestivo, chama-nos e atrai-nos. Que bela escolha!

Finalmente, ao fim de 41 anos de separação devido à fuga de um deles, dois amigos reencontram-se. Depois de sobreviverem ao colapso dos valores que defenderam e ao desmoronar do seu próprio mundo e à morte de Krisztina que foi o centro de tudo. Foram 41 anos em que um segredo ensombrou as suas vidas, foi guardado, repensado, remoído, triturado, analisado até à exaustão. Encontram-se e têm de enfrentar, analisar e ver todo o passado à luz da verdade. É muito interessante que toda a reconstituição do passado seja feita pelo lado do triângulo amoroso que menos pode ter certezas sobre o que se passou: o marido. E só a velhice lhe pode ter trazido a serenidade e a sabedoria para a análise tão completa e profunda e o confronto tão compreensivo com o amigo que o traíu.

"A amizade deles era tão séria e silenciosa, como todos os grandes sentimentos que duram uma vida inteira. E, como todos os grandes sentimentos, continha também um certo pudor e sentimento de culpa. Uma pessoa não pode apropriar-se impunemente da outra, separando-a dos restantes."

"Sobreviver a alguém a quem amámos tanto que teríamos sido capazes de matar por ela, sobreviver a alguém a quem estávamos ligados de tal maneira que quase morremos por isso, é um dos crimes mais misteriosos e inqualificáveis da vida."

"Éramos amigos e não há nada na vida que possa compensar uma amizade."

"O Eros da amizade não precisa do corpo... longe disso, incomoda mais do que excita. Eros está no fundo de todos os afectos, de todas as relações humanas."

É um livro muito belo e profundo. Faz diferença não o ler...


2 comentários:

  1. Já não é primeira pessoa que fala bem deste autor. Confesso que nunca li nada dele, mas começo a ter alguma curiosidade em ler, dados os elogios com que os seus leitores o descrevem. O título do livro é apelativo, o texto crítico da minha Júlia kiduxa ainda mais. Parece-me bem :))

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  2. Apesar de não conhecer o autor, aqui ficam duas sugestões retiradas de um blogue que sigo. "A mulher certa" e "A herança de Eszter".

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