terça-feira, 16 de novembro de 2010

A ampulheta existencial


Aquela ampulheta provoca a dor da passagem do tempo. A fina areia dourada não pára, cai por aquela passagenzinha minúscula, vai escorrendo de cima para baixo. E nós a absorvermos aquela ideia do tempo a escoar-se, cada segundo, tic-tac, e o tempo vivido a crescer e o tempo por viver a encurtar… E a própria estrutura de madeira é uma jaula da passagem do tempo, a madeira que será a do nosso caixão ou da pequena caixinha que levará a cinza dos que serão cremados… E a areia é imparável, não adianta tentar pará-la, a sua passagem é constante, devagarinho lá cai ela… O nosso envelhecimento vai ao ritmo da areia dourada, devagarinho, construindo as suas rugas, as suas mazelas, internas e externas, aumentando o caminho percorrido. E o mais injusto é que cada vez estamos mais agarrados à nossa vida, aos nossos afectos, ao nosso mundo! E sabemos que tudo vai terminar mas não temos qualquer informação do quando, como, aonde, com quem, de que forma.


Tal como a vida, também aquela ampulheta é bonita, reluzente, se apenas a analisarmos de fora e não interpretarmos o seu significado. Ela mede o nosso carrasco: o tempo! A beleza e o tempo são dois irmãos por quem nos deixamos enredar: prendem-nos, enganam-nos e depois largam-nos.

Por tudo isso, temos de aproveitar o entretanto muito bem, porque entretanto o entretanto já passou. Carpe diem!


3 comentários:

  1. Maria júlia,fiquei encantada como comparando"Ampulheta Existencial" com as diversas fases da vida torna tão real todo o processo "ampulheta provoca a dor da passagem do tempo"..."O nosso envelhecimento vai ao ritmo da areia dourada, devagarinho, construindo as suas rugas, as suas mazelas, internas e externas, aumentando o caminho percorrido..." como concordo quando diz "... Por tudo isso, temos de aproveitar o entretanto muito bem, porque entretanto o entretatanto já passou" Parabéns Maria Júlia pela refexão que faz do processo evolutivo da vida. Adorei. Beijinho

    ResponderEliminar
  2. Minha Júlia kiduxa, este texto está magnífico. Tinhas razão quando disseste que era duro, mas a vida é assim. O tempo é um tema que tem tanto de interessante como de desinteressante. Falar do tempo, entriste-se. Faz-nos ver como a vida é curta, e o tempo passa, por mais que não demos conta a cur prazo. Mas é bom ver o tempo passar, porque é sinal que estamos vivos. E isso é o mais importante. Beijinhos. E enquanto isso vamos vivendo o entretanto.

    ResponderEliminar
  3. O tempo passa, passou, passará. Tb a beleza passa, passou, passará. Fica a recordação, o sonho, a ternura. Sentimentos q não passam E a ampulheta continua fazendo o seu trabalho até ao dia em que, a nossa desilusão a atire para bem longe.
    Gostei do texto, da sua imaginação e da poesia que ele contém. Bjs

    ResponderEliminar