Maria entra na capela e desfila como se entrasse numa discoteca, tipo: homens, cheguei!
O defunto era a sua última conquista. Não podia mesmo faltar a esta despedida. Mas quase lhe falta o ar de pensar que ele está mesmo ali, mortinho de todo! Ele que era tão agarrado à vida… Como não tem de lhe ver a cara, tenta pensar em algo mais animado. Olha, aquele morenão de olhos da cor do mar revolto da sua terra. E o mar da sua terra olha para ela… Maria olha de volta com o seu olhar mais profundo, mais penetrante: aquele que tudo promete e, no entanto, é tão ingenuamente reticente, tão vagamente misterioso, deixa margem para tudo.
O moreno passa ao seu lado e lança-lhe um apelo apaixonado, tem aquela expressão de cãozinho abandonado a precisar urgentemente de dona. Passa rente a ela e a calça toca a sua perna exposta. Desculpa-se e segue. Não tem de que se desculpar, ela gostou, até do seu tom de voz.
Ele dirige-se ao caixão. Meu Deus! O moreno destapa o rosto do morto.
Maria entra em pânico. Olha aquele ser acinzentado, que nunca mais a vai tocar. Começa a ver relâmpagos, acompanhados de um zumbido crescente nos ouvidos. Um enorme vórtice suga-a para os abismos do desmaio.
Assim, em vez de um, ficam dois corpos estendidos. Seria uma forma de prestar homenagem aquele último romance?
O corpo tem razões que o morto desconhece.
Nem tanto à morte, nem tanto à vida.
Será o desmaio um ensaio para a outra derradeira passagem?
Sublime..apenas isso!
ResponderEliminarUm beijo amiga
Difícil de comentar...A morte é tema difícil de desmontar. Um desmaio é...pôr os dedos dos pés na soleira da morte. E acorda-se porque não se quer entrar naquele mundo.
ResponderEliminarGostei, Bjs