domingo, 29 de dezembro de 2013

Ninguém

 
 

Ninguém

acordado

que me oiça,

logo hoje

que preciso

de um ouvido

amigo.

Mas é tão tarde

e os ouvidos

estão desligados,

os olhos fechados,

as mãos rotas!

Ninguém

que me liberte

estas palavras

que sufocam

de não ser ditas.

Apenas escritas.

Uma orgia

de palavras

e ninguém

para participar

neste festim.

E as palavras

sem ninguém

morrem

nos cantos da boca,

escorrem

e babam-se

e caem no chão

e desfazem-se

em mil letras

e espalho-as

pela janela fora.

Agora voam

livres e felizes

sem palavras

nem frases

que as prendam.

Vou dormir

libertei as letras,

as palavras,

as frases.

A cabeça

sossegada

já pode dormir.

Apago a luz.

Escuridão

sem palavras.

Ninguém.

Nada.

Silêncio mudo.
 

1 comentário:

  1. Muito bonito este poema, em que por vezes precisamos de um ombro amigo para podermos desabafar e que guarde as nossas confidências. E muitas vezes é tão difícil encontrar alguém em quem confiar...

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