segunda-feira, 3 de maio de 2010

"Ladrão de Fogo” de Pedro Paixão

Acabei de ler este livro e soube-me muito bem.

O Amor com todas as suas contradições: como nos agarra quando foge, como o descuramos quando ainda é possível: “O amor é esse conflito permanente e completo: liberta e agarra, é doçura e amargura, refaz e desfaz, ressuscita e adormece, faz-nos sonhar e confronta-nos com a realidade pura e dura, dá à luz. Mas também tem o poder de nos matar”. Trata também da pequenez e solidão humanas face ao tempo imparável: “Não chegamos nem a começar nem a acabar o que quer que seja, sobretudo nas vias do amor. E o tempo sempre a bater, esse nunca se cansa. A pôr veias salientes nas mãos que não enganam nunca”. É de Mestre!

Atrai-me a força da escrita do P.P. Frases curtas, irrepreensivelmente esculpidas, as palavras simples e directas, as imagens atingem-nos: “Entraste em mim como uma seta, rápida como o vento, quente como o fogo”.

“Foi a tua voz que me agarrou por dentro”: não havia melhor forma de contar este sentir!

Cada frase diz tudo o que tem a dizer. Nada falta, nada está a mais: “Eu amei todas as ilusões que fui sendo”.

A sua escrita é feita de saber vivido, muito intensa, muito sentida, muito forte. As vivências afectivas são ditas sem rodriguinhos, sem lugares-comuns, com amargura misturada, tal como na vida: “Os corpos servem para isso, para se comerem uns aos outros. Para se destruírem, para se irem destruindo pouco a pouco, irremediavelmente, para se comerem”.

Um livro que nos agarra, nos faz reflectir, nos deixa mais ricos. E é sempre muito bom ver a língua portuguesa tratada com tanta mestria por este artífice da palavra.

P.P. no seu melhor!


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