sábado, 16 de outubro de 2010

Pontos de vista


“História de um conhecimento improvável “ ou “Como as bruxas andam por aí, basta convocá-las”

(ponto de vista da Rita)

- Boa noite
- Boa noite
- Será possível falar com a Rita?
- Aqui não vive nenhuma Rita.
- Lamento, devo ter trocado algum número. Peço imensa desculpa. Boa noite.

(Já me perdi. Gostava bem de me chamar Rita, azar não ter podido escolher, mais uma daquelas coisas que carregamos contrariados. E logo eu, que acho os nomes tão importantes!)

Trrim, trrim, trrim

- Boa noite
- Estou a conhecer a voz, deixe-me adivinhar: quer falar com a Rita…
- Queria, mas já não quero, quero mesmo é falar consigo. A sua voz deu-me vontade de tentar, pelo menos, ouvi-la mais um bocadinho. Não se zangue comigo, pleeeeease! A culpa é mesmo dessa voz! (riso)
- É curioso, você fez-me sentir pena de não ser a Rita, não a que conhece, mas a outra, era o nome que eu gostava de ter, era uma Rita que eu gostava de ser.
- Fazemos assim: para mim você será sempre a Rita, acha bem?
- Por mim, não podia estar melhor. E você, como gostava de se chamar?
- Adorava ser Miguel.
- Adora ser o Miguel, porque é assim que o vou chamar.
- Acho estes baptismos um bom princípio. Não estou a interromper nada de importante?
- Por acaso estava a preparar as coisas para um curso que vou iniciar amanhã, mas tenho tempo…
- Coincidência: amanhã também vou começar um curso absolutamente novo para mim. Sempre desejei experimentar este meu lado escondido e agora calhou e lá vou eu. Escrita Criativa, imagine!
- Eu não acredito em bruxas, mas que as há, há! (Riso) Não é que eu também vou entrar num curso desses!
- Não é na Companhia do Eu, claro!
- Ai as bruxas… (riso) É mesmo aí, caro colega!
- Então não temos nada para combinar. Está combinado: amanhã às 9 e meia, caríssima colega. Já temos algo em comum…
- Lanço-lhe um desafio: vamos criar uma história que começa por este telefonema. O real e a ficção de mãos dadas…
- Aceito. Já estou a arquitectar umas coisas.
- Então até amanhã, Miguel. Noite descansada.
- Até amanhã, Rita. Noite feliz.

(Meu Deus, a vida é uma graça… Pelo menos já conheço alguém no Curso, estava em pânico por ir sózinha, até me sinto mais segura. Embora seja alguém que não sei como é, nem o nome, afinal. Que disparate, não sei sequer o nome dele nem ele o meu! E nem sabemos o aspecto do outro, a idade, etc. Boa! Mais uma curiosidade a acrescentar à “História dum conhecimento improvável” ou “Como as Bruxas andam por aí, basta convocá-las”. O título é muito importante, tenho de dormir sobre ele…)




“I am the King of the World” ou “A sorte não cai do céu, temos de usar a imaginação e dar uma mãozinha”
(ponto de vista do Miguel)

- Boa noite
- Boa noite
- Será possível falar com a Rita?
- Aqui não vive nenhuma Rita.
- Lamento, devo ter trocado algum número. Peço imensa desculpa. Boa noite.

(A primeira parte já está. Estou uma pilha de nervos. Já lá vai um mês desde que a vi pela primeira vez. Ela tinha algo que me fez segui-la até a ver entrar no prédio onde vive. E tive a sorte de ficar no passeio em frente a olhar nem sei por quê… Mas fui mais que compensado quando a luz do 3º direito se abriu e ela veio fechar a janela. Daí a ter sabido o número de telefone fixo foi um passo. Mais uma vez: factor sorte, tinha fixo da PT. Mas isso agora não interessa nada. Força, Afonso, agarra-te à sorte, tchxaram…)

- Boa noite
- Estou a conhecer a voz, deixe-me adivinhar: quer falar com a Rita…
- Queria, mas já não quero, quero mesmo é falar consigo. A sua voz deu-me vontade de tentar, pelo menos, ouvi-la mais um bocadinho. Não se zangue comigo, pleeeeease! A culpa é mesmo dessa voz! (riso)
- É curioso, você fez-me sentir pena de não ser a Rita, não a que conhece, mas a outra, era o nome que eu gostava de ter, era uma Rita que eu gostava de ser.
- Fazemos assim: para mim você será sempre a Rita, acha bem?
- Por mim, não podia estar melhor. E você, como gostava de se chamar?
- Adorava ser Miguel.
- Adora ser o Miguel, porque é assim que o vou chamar.
- Acho estes baptismos um bom princípio. Não estou a interromper nada de importante?
- Por acaso estava a preparar as coisas para um curso que vou iniciar amanhã, mas tenho tempo…
- Coincidência: amanhã também vou começar um curso absolutamente novo para mim. Sempre desejei experimentar este meu lado escondido e agora calhou e lá vou eu. Escrita Criativa, imagine!
- Eu não acredito em bruxas, mas que as há, há! (Riso) Não é que eu também vou entrar num curso desses!
- Não é na Companhia do Eu, claro!
- Ai as bruxas… (riso) É mesmo aí, caro colega!
- Então não temos nada para combinar. Está combinado: amanhã às 9 e meia, caríssima colega. Já temos algo em comum…
- Lanço-lhe um desafio: vamos criar uma história que começa por este telefonema. O real e a ficção de mãos dadas…
- Aceito. Já estou a arquitectar umas coisas.
- Então até amanhã, Miguel. Noite descansada.
- Até amanhã, Rita. Noite feliz.

(“I am the King of the World” ou “A sorte não cai do céu, temos de usar a imaginação e dar uma mãozinha” parecem-me bons títulos para a história que vou escrever. Ela vai compreender, até vai achar graça. Mas realmente um bem nunca vem só: naquele dia que entrei no mesmo autocarro em que ela entrou com uma amiga e ouvi, por mero acaso, como sempre, que ela ia começar um curso de Escrita Criativa na Companhia do Eu. E contou todos os detalhes: foi a cereja em cima do bolo. Até senti que eu próprio podia bem puxar pela minha veia e lá me inscrevi também… Socorro, estou a apaixonar-me, é impossível resistir a tanto charme! Estou que nem posso, vou dormir mal! E ainda por cima a voz é linda também! Só espero que não escreva melhor que eu…)

1 comentário:

  1. Gostei. Está uma ideia bem gira. Até tem um bocadinho de Joanne Harris, o ser outra pessoa, ou melhor o fazer-se passar por outra pessoa. E ainda não tinhas lido a autora... só demonstra que te identificas com a sua escrita. Estou curiosa por ver o outro das cores. Beijinhos. E bom resto de curso. Espero acompanhar aqui os teus trabalhos.

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