segunda-feira, 18 de outubro de 2010

O rapaz de olhos azuis - Joanne Harris



Sempre adorei thrillers, romances, policiais em que o crime seja o tema. Os meandros da mente humana, as motivações e os  distúrbios de personalidade, pessoas comuns que deixam emergir as facetas mais sinistras, psicopatas escondidos na capa de pessoas simpáticas, os labirintos mentais de quem tem de ultrapassar os limites socialmente aceites, os quês, os por quês, os comos, os quandos: tudo isso me fascina!

Primeiro consumi Agatha Christie até à exaustão. A seguir tornei-me intíma de Ruth Rendell. Mas foi a Patricia Highsmith que me conquistou completamente. As mulheres escrevem magistralmente sobre estes temas, sobre o lado sombrio da existência a coexistir com uma vida o mais normal possível. Este tipo de romance é literatura menor? Eu acho que quando é bom tem o mesmo nível que outro tipo de romance. E também quem é que aguenta só ler Proust e afins? Precisamos manter a sanidade mental para não sermos nós também protagonistas de algum destes casos de desvios comportamentais... Por mim, sou muito eclética em várias áreas e a literatura não é excepção! Mistura é a palavra-chave!

A minha amiga Sandra, fã incondicional da Joanne Harris, ofereceu-me este livro. Nunca tinha tido qualquer contacto com a escrita dela, apenas sabia que os críticos a achavam light. Mas eu sou como S. Tomé: ver para crer, neste caso: ler para crer.

Assim, levei o livro de férias comigo e saboreei-o, devorando-o, mas devagar. A Joanne conseguiu prender-me ao longo desta história-puzzle bem complexa! É extremamente arriscado a ideia de contar tudo através das entradas dos protagonistas num Webjournal. E ela fá-lo com muita habilidade. Os crimes-perfeitos biográficos são contados on-line: serão reais? Serão apenas ficção dos exercícios de escrita criativa? O leitor fica bem baralhado...

É usada a sinestesia de alguns personagens, o que dá uma escrita bem colorida através da união feliz dos sentidos. As complexas relações mãe/filhos são analisadas e aprofundadas nas suas mais estranhas perversidades. "O peso da atenção da minha mãe pairava agora sobre a minha vida como uma nuvem de trovoada permanente". Relações amigáveis entre irmãos? Nesta história não, obrigada!

A autora termina duma maneira que nos deixa meios atordoados. Dá-nos um final para interpretarmos, não nos oferece a papinha feita, fica por nossa conta o desfecho da história. Também temos de criar, por que não?

Se um livro é o diálogo entre o escritor e o leitor, este romance mantém essa relação bem viva. Joanne Harris vai-nos dando muita informação, muitas conexões, muitas interacções entre pessoas e histórias, vai-nos informando, baralhando e obrigando a estarmos muito atentos: faz-nos interpretar, concluir e ir tecendo a própria trama. Como leitores, não nos limitamos a ler, temos de participar. Caso contrário, é melhor desistir ou a confusão toma conta de nós.

Esta não é uma leitura fácil, mas a escrita também não é light. Os críticos adoram rótulos. Somos nós que temos de decidir o que é uma boa ou má leitura. E se somos bons ou maus leitores.

A cor é uma forte componente neste livro, as próprias palavras são coloridas. E o azul é a cor dominante: "o azul é a música da alma". Este livro coloriu algum tempo das minhas férias, em tons de azul, que é a minha cor. Foi uma leitura feita na praia, em frente de um mar azul e de gloriosos céus em tons de azul. O azul é bem a música da alma!

4 comentários:

  1. Olá kiduxa :)) Gostei muito do elogio feito ao livro. E fico feliz por teres gostado. Para que todos os que visitam o teu blogue e lerem este post, quero dizer que eu sou a tua amiga Sandra kiduxa. E foi um prazer oferecer-te este livro, e ainda mais prazer deu-me ler este texto, porque fiquei a saber que valeu a pena. Este teu último parágrafo está maravilhoso. Parabéns. E boas leituras, quer sejam da Joanne Harris ou não. Porque vale sempre a pena ler.

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  2. Mª Júlia já pensou ser crítica literária num jornal da nossa praça? Olhe que a menina escreve com tanta precisão, tanta sequência que eu acreditei que estava a ler o Diário de Notícias de há uns anos atrás, quando havia crítica literária. Bjs

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  3. Eu também agradeço muito teres-me proporcionado esta oportunidade de outra forma não leria este livro, de que gostei bastante, como percebeste. Fôste uma kriduxa. Aliás tens-me incentivado bastante, até estimulado para escrever mais e melhor. Obrigada, amiga!Bem-hajas!

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  4. Querida Amiga Maria (Atena),

    Deixa-me sem palavras e muito babada. Mas também mais motivada, que é uma coisa que precisamos tanto nesta vida! Na outra não sei. Obrigada.

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