segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

O meu carro e eu

O meu carro morreu.
E doeu.
Porque o meu carro era lindo
E era meu.
Feito uma pessoa, bonito, companheiro.
Era vermelho.
Uma cor quente,
Que me aquecia por dentro.
Quando saíamos, eu e o meu carro,
Éramos uma incandescência
A deslizar por essas estradas fora.
O que nós gozávamos,
Nesses loucos anos,
O meu carro e eu!
Fomos por esses cenários fora,
Percorremos paisagens de cortar o respirar…
Vimos o sol  se pôr vezes sem conta,
Sempre diferente,
Sempre poente, urgente.
Vimos tanta noite nascer,
Tanta noite morrer!
E começámos muitos dias sempre novos,
Como nós juntos de novo sempre.
O meu carro e eu.
Às vezes tínhamos companhia,
Às vezes bastámo-nos um ao outro,
Avermelhámo-nos um ao outro…
Crescemos juntos,
Cuidámo-nos,
Mimámo-nos.
Brincámos,
Descobrimos mundos.
Fomos tão amigos,
O meu carro e eu!
Fizemos muitas viagens,
às vezes sem sair do mesmo sítio…
Enroscava-me nele,
Nos seus assentos gostosos,
De pele,
E a minha pele fundia-se na sua pele.
Confortável.
Adorável
O prazer que ele me deu,
O meu carro…
Como fomos amigos,
Inseparáveis,
O meu carro e eu!
Que vou eu fazer,
Como vou eu viver,
Agora que ele morreu?
Já sei,
Para fazer o luto,
Vou comprar outro carro,
Mas preto.

1 comentário:

  1. Gostei!
    Compra antes cinzento metalizado,
    que é luto aliviado!

    Luisa

    ResponderEliminar