segunda-feira, 17 de maio de 2010

Uma encantadora velhinha criada num fim de tarde num workshop da Feira do Livro






Aquela velhinha toda bem posta é uma graça! Aquele olhar misterioso de quem fez muita maroteira, de quem viveu tudo a que tinha direito, deixa muita margem para a imaginação. Naquele seu aprumo, na sua faceta fashion, percebe-se que foi uma coquete…

A sua actividade há-de ter tido a ver com o acto de criar! A forma como olha, percebe-se que vê para além das aparências, faz a radiografia colorida, está a criar de mim uma história, como eu estou a criar a dela. Este intercâmbio faz-nos sentir que temos uma ligação. Sempre nos olhamos, nos analisamos, nos inventamos… E trocamos um imperceptível sorriso de cumplicidade…

E assim seguimos revigoradas para o nosso dia e a nossa própria vida.



A casa desta velha senhora é um mix de peças de cerejeira do início do século passado com cortinados de seda de cores fortes a combinar com todos os tamanhos e feitios de almofadas coloridas. Há souvenirs do mundo inteiro que contam histórias, muitas memórias.

As paredes têm arte e mais arte e toda a casa é uma obra de arte, porque tecida pelo viver cheio de uma vida, aliás, de várias vidas numa vida…

E o gato dorme com o seu lustroso pelo preto que reluz ao sol na almofada vermelha da cadeira branca de ferro forjado.

A casa respira boas energias e o cheiro a incenso e a jasmim leva-nos para outros mundos visitados e sonhados por esta deliciosa inquilina.

Quando se for a sua presença ficará impregnada, fará parte da história que esta casa conta.



Como bailarina correu mundo. Suscitou muitas paixões, desencadeou tempestades sentimentais, mas ela reservava-se para algo melhor; criara tantas expectativas que parecia que o comum dos mortais não tinha hipótese de vagamente se aproximar…

Até que um dia ele chegou sem palavras e com aquele olhar preto e profundo e enorme. E ela, deslumbrada, seguiu-o. Ele estava além do que tinha imaginado, a realidade ultrapassou o sonho. Viveram uma paixão tórrida, perdidos e achados um no outro. Ele era um cidadão do mundo e viveram a sua história por esse mundo fora, viajaram sempre, renovaram-se em todos os destinos, foi um amor sempre em movimento. Ela deixou tudo para trás e partem nesta aventura imensa. Estão sempre juntos, devoram-se, vivem tudo até ao limite. Amam-se sem passado e sem futuro. O que conta é o que têm agora. São imortais, o tempo não existe.

Um dia acorda e ele não está lá. Nunca mais estará. Partiu como chegou: sem palavras.

A dor não se conta, dilacera. Ela guardou aquele homem bem dentro e vive aquela paixão intensa em sonhos escaldantes nas noites em que transpira solidão.

2 comentários:

  1. Oh Júlia este texto está maravilhoso. Que encantadora velhinha tu criaste, até da vontade de conhecer. Mais uma vez bonitas palavras, excelente autora :)

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  2. Fico muito feliz por te dar vontade de a conhecer. Isso é o melhor que se pode dizer a quem criou um personagem. O feed-back não podia ser melhor! Obrigada!

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