terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Cheia


Oito horas desta soberba manhã e ouvi o chamamento: a extensa praia vazia chamava por alguém, alguém que a enchesse, que a gozasse em toda a sua pureza. E esse alguém era eu, que honra!

Ela oferecia-me a sua beleza nua e crua, virgem daqueles estragos que só o bicho homem consegue infligir na natureza, sob os mais nobres pretextos.

Ela abria-se para mim e eu percorria-a com todo o vagar, com toda a paixão da primeira vez. Entrei pelo seu mar adentro e deixei-me percorrer por aquele prazer sensual, aquela massagem que só o mar nos sabe fazer, enchendo de mimos os recantos pressentidos mas ainda não explorados dos meus sentidos.

Toda aquela beleza era um forte apelo à criatividade, uma tela a pedir “pinta-me”, as palavras a saltitar, a reunirem-se em frases, a construírem capítulos, a tecerem uma trama, a criarem um romance na minha cabeça.

E eu com o dia à minha frente para gozar em pleno aquela beleza, renascida e refrescada por dentro e por fora.

Mergulhada no azul, boiando no azul, olhava aquele jogo de espelhos azul e sentia-me lambida de azul. Toda aquela sinfonia azul era uma perfeição, ali nada desafinava.

Entrei numa praia vazia e saí dela cheia e bêbeda de azul. Tudo era possível. A felicidade era mesmo um estado de espírito, o meu, inspirado naquele pedaço de paraíso.

2 comentários:

  1. A paria é mesmo um paraíso, ao ler este texto deu-me ainda mais saudades do verão :) Beijinhos

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  2. Paleta de cres - a sua imaginação. Do vermelho salta para o azul. Azul do céu, azul do mar, azul da ametista, azul- sucedãneo de transparências.
    Azul forte - calor
    Azul claro - Amor.
    Gostei do texto. Gosto muito do azul.

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